quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Análise crítica de Maria Alzenir.

Na crônica, intitulada “Malvívulo”, assinada sob o pseudônimo Justulo, em 1910, no jornal Correio do Acre, o narrador, antes de traçar o perfil do personagem principal, situa-o em uma comunidade feliz e em um tempo não marcado no calendário, mas passível de identificação histórica por aludir à conquista do Acre e a um possível tempo de regozijo de seu líder, Plácido de Castro, antes que fosse instaurada a desordem e acesas as ambições de alguns de seus correligionários. Estes, traiçoeiramente, tramaram e executaram o plano de assassiná-lo, em 1908, fato que foi levado a termo, segundo as fontes históricas, por um de seus ex-companheiros de batalha, o Coronel Alexandrino José da Silva, que se aliou às forças federais, tornando-se então opositor de Plácido de Castro e dos que defendiam a autonomia imediata do Acre.
Nessa crônica, como nas demais selecionadas, nem mesmo o personagem principal é nominado. A identificação dos personagens é feita ao se estabelecer relação entre o conteúdo sugerido pelo texto e as informações contextuais. Feito esse procedimento pode-se chegar a deduções coerentes com a representação que é oferecida pelo narrador, e, junto com ele, “presenciar” os eventos retirados do passado, isso quando o universo referenciado é também narrável no mundo objetivo.
Nesse caso, o início da narrativa pode se situar historicamente em um possível breve período de paz que transcorreu da conquista do Acre setentrional, onde Plácido de Castro foi conclamado governador, ao tempo de seu assassinato, quando o Acre já não estava mais sob seu domínio, e sim dos generais nomeados pelo governo federal . Em alusão a esse período, o narrador informa que:
Decorriam-se os dias, Alegre e satisfeito, nobilitando no empenho da terra que denodadamente libertara, hipotecando toda sua alma grandiosa cheia de invencível ardor pátrio, ele vivia. Por subitâneo e brusco golpe é atirado a mundos ignotos, longe, bem longe da terra estremecida, da família e daquela que escolhera ainda para partilhar a glória de seu nome (Jornal Correio do Acre, 1910).
Na crônica em questão, o narrador envereda-se por especulações de natureza filosófica ao acompanhar o percurso do seu personagem pelo mundo dos mortos para onde ele foi arremetido abruptamente, sem, contudo, desvincular-se do mundo objetivo, onde já não se sentia mais incluso:
Passaram-se tempos. O degredo prolongava-se. O espírito anuviado da perturbação constantemente tão violenta transição, aclarou-se pouco a pouco, e então ele sentiu–se estranho no meio daquele povo que libertara. Examinou-se, examinou a todos e sentiu-se novamente estranho! Notou que alguém guardava ainda lembrança a seu nome, e no meio de todos, alguns passaram perturbados procurando esconder as mãos! Contemplou-os! Chamou-os, chamou-os novamente, pareciam não lhe ouvirem, não lhe entenderam (Jornal Correio do Acre, 1910).

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